top of page
fabiano lemos [fotos dos outros]

 

qual foi o primeiro contato com publicações de artista?

pra falar a verdade, eu sempre odiei fotografia, então eu entendia, equivocadamente, que as publicações eram muito voltadas para isso. eu já colecionava álbuns antigos, mas mais pelo caráter de memorabilia. sempre achei fotografia uma coisa meio essencialista, não tanto pela imagem, mas pela ligação que normalmente é feita com a ideia de memória. não acredito em memória. mas era preconceito meu. quem mudou minha opinião foi um artista holandês chamado erik kessels. conheci um dos volumes da série "in almost every picture" enquanto viajava. nele, havia uma coleção de fotografias achadas de um cachorro preto. isso realmente me fez perceber uma coisa meio óbvia: a fotografia podia ser um exercício de desconstrução e destruição da memória. foi quando comecei a pensar no projeto fotos dos outros.

 

quando e como começou a publicar? 

da coleção, que cada vez mais aumentava, resolvi fazer uma seleção em 10 volumes com as melhores fotografias. fiz uma caixa com esses volumes em edição limitada (eles eram caros de fazer, a gráfica demorou para entender o que eu queria, enfim...) para participar de um feira de publicações independentes aqui no rio, onde moro, chamada pãodeforma. isso foi em 2013. mas como eu odeio festa, e as feiras sempre acabavam se transformando em festa, eu participava pouco. mas o trabalho circulou um pouco entre algumas pessoas, fizeram uma reportagem comigo para um site espanhol, me convidaram para participar de uma feira do camera club em nova iorque e eu fui fazendo, meio sem me levar a sério. até hoje não me levo a sério. não sou um artista, sou um assaltante. violador de tumbas, talvez.

 

fale sobre o fotos dos outros. 

o projeto tem duas vias. uma é a coleção. até antes da pandemia, eu saía duas vezes por semana para comprar fotos achadas no lixo. uma no sábado e outra no domingo, nas feiras e mercados de pulgas que têm por aqui. depois comecei a comprar pela internet, e como todo vício, saiu do controle. hoje tenho uma coleção muito maior do que cabe na minha casa, e de vez em quando dôo algum material. devo ter atualmente umas 20 mil fotografias. só me interessam fotografias do cotidiano, que não tenham sido tiradas com intenção artística (ao menos não reconhecidamente) e que foram esquecidas ou abandonadas. a outra via é a da manipulação dessas fotografias em livros de artista (que expressão horrível!), em que crio novas narrativas a partir delas. faz tempo que não trabalho nessa segunda via, pois tenho pouco tempo atualmente - sou professor de filosofia na uerj, então, você imagina...

como você pensa na circulação das publicações?
eu não penso muito nisso, não. como são exemplares únicos, em geral, só mesmo nas feiras. fiz uma colaboração muito bonita com o erik van der weijde para a revista subway no ano retrasado. acho que essa circulou um pouco mais.

por que publicar?
eu vejo a publicação independente como um ato político. cresci na década de 1990, colecionava zines mimeografados, xerocados, e sempre achei que eram uma forma de criar um mundo paralelo, uma contracultura, sei lá. eu me interesso pelo problema: como viver em um mundo horrível?
publicar é parte da resposta a esse problema. mas não faço isso de modo consistente, como muitas outras pessoas fazem. não tenho esse talento. sou uma bixa velha e cansada. mas tenho umas histórias para contar aos meus netinhos.

indique três publicações que te fazem querer continuar publicando.

eu não sou nenhum expert nisso, mas admiro o trabalho político da fernanda grigolin, embora me distancie dele em termos de design.
tem um livro lindo chamado "al otro lado", do misha vallejo. nesse me vejo mais em termos de imagem.
e o erik van der weijde também, claro. eu adora a subway, especialmente pela maneira como combina a ideia de arquivo e ironia.
se me permitem falar de mais um (ou dois, na verdade), eu diria que o trabalho da cristina de middel e do bruno morais, midnight at the crossroads, é de fazer chorar de lindo.

se quiser, conta pra gente: como você e a flamboiã se conheceram?

acho que foi na feira tijuana em 2014. aí depois vocês me convidaram para falar, mas eu tinha muito pouco tempo por conta das aulas, enfim... sempre fico esperando poder dar a vocês a atenção que vocês me deram. espero que responder a essas questões tenha ajudado um pouco nesse sentido a me desculpar. acho demais o trabalho de vocês, de verdade.

 

conheça o fotos dos outros:
instagram.com/fotosdosoutros

117818802_3285102618213367_3683411989220
bottom of page