qual foi o primeiro contato com publicações de artista?
acho que pessoalmente meu primeiro contato foi ainda na época da graduação em artes visuais, em seguida me interessei e comecei a investigar essa produção e acompanhar o trabalho de alguns artistas que tinham o livro como tema ou suporte, como fábio morais. vi nascer a tijuana e, logo que consegui mais disponibilidade de tempo/energia e companhia, me juntei à essa cena que recém florescia e começamos a publicar.
quando e como começou a publicar?
em 2013, junto aos integrantes do espaço de arte autônomo .aurora, tínhamos clareza da importância da publicação como suporte para o trabalho daqueles artistas. logo que o espaço abriu começamos a projetar uma iniciativa editorial somando meu interesse e investigação em publicações de artistas e minha experiência em design gráfico, mas faltava o olhar de uma editora (principalmente pois víamos também a importância da produção de ensaios e publicação de textos críticos) por isso convidamos a júlia ayerbe, que então trabalhava com publicações e catálogos em instituições de artes. junto organizamos as edições aurora que, em 2015, se juntou ao projeto internacional publication studio. a primeira feira que participamos foi a tijuana, na casa do povo. no fim de 2018 encerramos as edições aurora, mas o projeto publication studio são paulo se manteve ativo como plataforma para publicação.
fale sobre a publication studio são paulo.
ps_são paulo faz parte de uma plataforma hoje presente em 11 países, cujo princípio é a circulação de livros pelo mundo a partir da produção sob demanda. os estúdios (pss) que fazem parte dela são bem autônomos, cada um tem sua peculiaridade. atualmente, o ps_são paulo é organizado por 4 mulheres: 2 lauras e 2 marinas (laura daviña, laura viana, marina marchesan e marina zilbersztejn). usamos o estúdio como plataforma para publicarmos o que acreditamos (tanto coletivamente quanto cada uma, de forma individual), como lugar de trocas e encontros, e como ateliê para investigar e testar novas formas de produzir e circular publicações. priorizamos o entendimento da publicação como verbo, como movimento constante na busca por diferentes meios para chegar em pessoas e criar públicos, de conectar e instigar reflexões. as estratégias e experimentos realizadas no processo de colocar um livro no mundo são tão relevantes, para nós, quanto o produto final da publicação. por isso, usamos nosso espaço, que chamamos de parquinho gráfico (e é compartilhado com es querides coletivo ocupeacidade), como um laboratório para oficinas, mutirões e experimentação de suportes variados para a publicação. vemos que isso vai fomentando uma comunidade e a formação tanto de leitores quanto de novos autores, artistas, publicadores.
como você pensa na circulação das publicações?
tentamos buscar para cada publicação uma estratégia própria mas, de modo geral, gostamos de pensar a circulação de forma a conectar pessoas, por isso espaços menores como as feiras, bancas e livrarias independentes nos atraem. apesar do diferencial do nosso projeto ser a conexão em rede para uma circulação internacional via plataforma online, vemos que os encontros entre leitores e livros num dado espaço-tempo – com a mediação da editora principalmente – possibilitam trocas ricas que transformam as pessoas. neste momento, com tudo isso ainda em suspensão pela quarentena, tem sido desafiador repensar as estratégias de sustentabilidade mas também um momento de recolhimento frutífero para reflexão sobre alternativas e exploração de novas plataformas para publicação.
por que publicar?
porque queremos somar à multiplicidade de vozes, experiências, reflexões que compõe a riqueza da nossa cultura e sociedade, com o que acreditamos e queremos ver no mundo. principalmente num momento político que estamos vivendo, onde a diversidade de ideias é oprimida e perseguida, pensamos que é imprescindível publicar autoras/es que consideramos importantes para uma mudança de paradigma. publicar não só como forma de denunciar uma realidade na qual não concordamos como também trazer luz à outras formas possíveis de viver e experimentar o mundo, mais coerente com nossos propósitos.
acredito também que a exploração de suportes e investigação prática do ato de publicar — características desse cenário das publicações de artista — pode levar a uma criatividade de estratégias políticas, não só de resistência como de movimento ao diálogo e encontro. também boto fé na publicação enquanto criação de comunidades que trocam recursos e táticas.
indique três publicações que te fazem querer continuar publicando.
as publicações nas quais estamos trabalhando no momento são combustível para continuar agora: “vida e morte de uma baleia-minke no interior do pará e outras histórias da amazônia”, do fábio zuker; “co-sentindo com ternura radical”, da dani d'emilia, vanessa andreotti & coletivo gtdf; e “nas margens da educação”, do ciano.
além delas, tem 2 publicaçõezinhas que me cutucaram/mobilizaram que foram “what problems can artist publishers solve?”, uma reunião de relatos de publicadoras/es, e “publishing in the realm of plants fibers and electrons” da “temporary services”, que tive o privilégio de conhecer através do marc fischer, ano passado. sempre bom saber que tem mais gente com quem nos identificamos e a quem mirar/admirar.
se quiser, conta pra gente: como você e a flamboiã se conheceram?
conhecemos a feira através de um convite, em 2016, em sua segunda edição, quando participamos e júlia foi com as edições aurora/publication studio são paulo. para a feira de 2017 e na flamboiã [frete], enviamos algumas publicações do ps_são paulo (na época ligado às edições aurora). e em 2019 foi lançado no encontro flamboiã o livro “fascismo: definição e história”, de luce fabbri (coedição nossa com microutopías e tenda de livros).
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